quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A PROFESSORA NOVA


          
      Trinta anos de profissão, sala de aula, dura lida com aqueles meninos e meninas, mais aqueles que estas, esculpindo-a paulatinamente. Chegou então o grande dia, já fora de hora: a aposentadoria. Os meninos estavam tão risonhos e felizes que até contrariavam a velha mestra. Mas essa ideia contrastava com a festa de despedida. Durante dias os meninos e as meninas se revesaram num esforço contínuo, às escondidas, segredo de lesa-turma. Ninguém podia saber da festa. A despedida. Pediram discurso, os pequenos. Ela com lágrimas nos olhos quase desistiu de vestir a camisola. Mas foi. Abraçou um a uma, e eles o fizeram, como nunca tinham feito.
            Havia, porém, uma incógnita: quem substituiria Professora Maria, na árdua tarefa de ensinar a ler e escrever àqueles pestinha? Logo que se iniciou a semana seguinte ao afastamento, os pequenos, e principalmente os pequenos, exigiram uma professora nova. A ponto de irem até o gabinete da diretora para falar a ela que queriam uma professora nova. A diretora, durante o intervalo, comentou com os professores e as professoras sobre os meninos:
          — Ora vejam só, a gente pensa que esses pestinhas não gostam de estudar! Mas foi só a Maria se aposentar, já vieram à minha sala exigir uma professora nova. Bem ajuizados são eles. Benza-os, Deus!

          A semana se prolongou com dona Fátima solicitando à Secretaria de Educação uma professora nova para substituir Maria, alegando que, além de estarem com o aprendizado prejudicado, os pequenos gostavam muito de estudar e não podiam perder o gosto pelas aulas. O dilema, felizmente, durou pouco. Duas semanas após os acontecimentos narrados, chegou à escola dona Lúcia. Vinha da própria Secretaria. Além de exímia professora era considerada uma das mais experientes técnicas em educação infantil. Faltava a ela cinco anos para a aposentadoria, e era seu desejo terminar sua carreira em sala de aula. Quando dona Fátima recebeu essa notícia, um sorriso lhe alargou a boca de orelha a orelha. “nossa! como os meninos vão ficar felizes”. E foi ela pessoalmente apresentar a nova mesta aos pequenos estudiosos. Entretanto, para sua surpresa, não houve nenhuma atitude que denotasse a alegria dos pequenos, sobretudo dos pequenos. E o sobressalto foi maior quando um dos bem pequenos levantou-se em protesto para dizer em nome da turma:
             — Diretora, nós queremos é uma professora nova, novinha estralando!

(Professor Alves, baseado em um fato ocorrido na EEFM Gonzaga Mota, em Messejana)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SE VOCÊ NÃO É DA “FAMILY”, QUE SE DANE!


  
              
                                                                                        
      Leio nos jornais, que os juízes poderão entrar em greve. Reivindicam aumento salarial que, se conseguido, aumentará um mísero salário de R$ 26 mil para uns parcos R$ 30 mil. Alguém em sã consciência acha que eles não conseguirão o tal aumento? Ou será que sua greve será declarada ilegal?
     O referido episódio me vem à mente, quando os professores da rede estadual de ensino do Ceará optaram por paralisar suas atividades na luta por melhorias salariais e melhores condições de trabalho. O governador do Estado, que pertence a um partido dito “socialista”, afirma que não haverá negociação; o que nos parece por demais estranho, uma vez estarmos numa democracia.  E, dizem, que quando não temos muito em que pensar, acabamos pensando coisas à toa. Como não sou o Eike Batista (aquele a quem o Ceará vende água a preço de banana, enquanto vários cearenses não têm acesso ao precioso líquido) e como tal não perdi R$ 2 bilhões na bolsa, fico pensando em coisinhas. Por exemplo, penso onde estudam os filhos do excelentíssimo senhor governador, da secretária de educação? Como disse, pensamentozinho à toa, pois não tenho o menor interesse em saber. Sei, contudo, que, se crianças, não estudam nas escolas públicas, que caem aos pedaços. Se mais jovens, não estudam na Universidade Estadual do Ceará - UECE, vítima da inépcia e do descaso de sucessivos governantes. Certamente ajudam a encher os cofres de instituições privadas nacionais ou estrangeiras. Aos que não são da “family” resta aqui e ali um curso técnico. Para que pobre com nível superior, não é mesmo, Senhor Governador?
         Dizem que no Butão, o rei sempre se curva na presença de professores. É uma maneira de o soberano mostrar aos seus súditos a importância da educação. A importância dos mestres. No Ceará, conforme o jornal O povo do dia 24/08/11, os professores organizaram um protesto e foram recebidos pelo batalhão de choque da polícia militar. Longe de querer comparar o Butão com o Ceará. Enquanto lá eles já trabalham com a FIB (Felicidade Interna Bruta), aqui ainda baseamos nossa vida no PIB (Produto Interno Bruto), no “prendo e arrebento” da ditadura, maquiada de democracia.
         Os filhos dos nossos governantes não precisam da minha (nem da sua) preocupação. São bem nascidos e já estão muito bem encaminhados na vida. Minha preocupação, no entanto, é com os severinos e as severinas que moram lá nas brenhas. Aquelas criaturinhas miseráveis que nunca andaram nem de avião nem de limusine e que, muito provavelmente, jamais irão a Nova York com  
sua “family” (incluindo suas futuras sogras). Como naquele poema, tudo que conhecem é o beco. Na falta do carro pau de arara, nada de escola. Na falta da escola, nada de merenda, nada de comida, nada do mínimo que já não possuem. Mas quem se importa se os nossos mestres recebem um salário ridículo. “O que importa é o que já não importa o que importa”. Quem se importa com as desocupações das casas daqueles que terão que sair do caminho, para não enfear a cidade à espera da Copa de 2014? Atitude semelhante fez o autoritário governo chinês ao receber os últimos jogos olímpicos.
           Aqueles que deveriam trabalhar para e pelo povo querem mais é que o povo se exploda. Esse povinho sem modos, pobre e feio que não é da “family”. Esse mesmo povinho que nunca foi a São Paulo Fashion Week, nem pode passar férias no circuito Paris - Nova York – Tóquio – Milão. Para esse povo um aquário basta. Mesmo que esse povo não queira um aquário. Mesmo assim terão que pagar por aquilo que não precisam. Tem sido assim nas democracias modernas.
             O governo “democrático” do Ceará deveria se envergonhar da miséria que paga aos seus professores. Mas querer que político tenha vergonha é querer demais. Espero que os professores mantenham a greve e que a eles se juntem seus alunos e suas famílias. Corre-se o risco de, em alguns dias, a justiça considerar a greve ilegal. Greve de motorista, professor, policial é quase sempre declarada ilegal. É assim que tem se portado a justiça por essas bandas. Justiça com dois pesos e duas medidas. Ou seja, quando não falta, demora. E, conforme Rui Barbosa, justiça que atrasa não é justiça. Mais um pensamentozinho à toa: Se quem ganha R$ 26 mil está reclamando, imagine quem ganha R$ 1.800,00.
             O jornal O Povo do dia 06/08/11 trouxe a seguinte notícia: “Cid e aliados debatem um “projeto socialista” para Fortaleza”. É um socialismo made in China?Alguém aí precisa explicar ao chefe do executivo e aos seus aliados o significado do termo socialista, pois as ações e tomadas de decisão desse governo estão mais para o autoritarismo do que para qualquer coisa que objetive o bem estar da população menos favorecida, incluídos aí os severinos e severinas que estão sem aula e sem comida. Mas quem se importa?
  Por prof. Carlos Carvalho 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CHEGA DE TRAIÇÃO



         Quando eu era pequeno, lembro-me de que meu pai falava muito em sindicato. Ele era pedreiro, explorado, fazia horas extras por cima de horas extras (por isso o víamos tão pouco) e nem sempre recebia por isso. Entretanto o sindicato nada fazia para melhorar sua vida e de seus companheiros. Era a época da ditadura militar e as instituições eram rigorosamente atreladas aos desejos dos donos do poder. Sindicato era uma entidade meramente assistencial. Quando íamos lá, era para uma extração de dente ou para pagar o tal SINDICATO.
       É bom lembrar que essa palavra deriva do latim que já era proveniente do grego sindikós, que significa advogado, aquele que defende. Em poucas palavras, o sindicato é uma instituição formada por pessoas de uma mesma atividade laborativa e cujo ÚNICO intuito é defender os interesses comuns da categoria. Meu pai, coitado, não conheceu essa instituição com ela deveria ser.
          Hoje não temos mais uma ditadura militar por trás do poder. Entretanto o SINDICATO               ( APEOC) ao qual sou filiado, assim como milhares de colegas de magistério, se nega a defender os interesses da categoria, preferindo, ao invés da luta, a covardia de baixar a cabeça ao governo e pedir aos professores que abandonem a frente de batalha. Uso esse termo porque é o mais indicado quando se está em combate. Quando a luta se está acirrando, quando o adversário já mostra visivelmente que está cambaleante, apesar de arrogante, quando nosso exército se aproxima da vitória, a APEOC vem e nos pede para retroceder. Lembra-me rapidamente a traição de Carlos Prestes, quando pediu ao povo apoio ao inimigo comum, Getúlio Vargas, esquecendo de vez o que o inimigo fizera, há pouco, com Olga Benaro. Assim como Carlos Prestes, a APEOC diz ser um recuo estratégico. Eu chamo a isso COVARDIA e TRAIÇÃO.
        Terminada a greve, a APEOC vai voltar a oferecer apenas pilates, serviços odontológicos, soteio de estada em casa de praia e outras atribuições de uma mera associação (não se esqueça que esse A de apeoc é de associação e não de sindicato). E eu, coitado como meu pai, vou me sentir abandonado, entregue a uma ditadura que controla os sindicatos e humilha toda a nação brasileira. A única diferença é que essa ditadura não é militar, mas civil!
       Por isso VOU ME DESFILIAR. E não é pelos reais pagos, que se juntam aos milhares de outros e se tornam milhões nos cofres da instituição. É pela vergonha de não ser protegido por quem me deveria proteger. Sinto-me órfão, como milhares de crianças Brasil a fora que, mesmo tendo um pai, se acham inseguras.
E VOCÊ, VAI FAZER O MESMO OU VAI ACEITAR ESSA TRAIÇÃO CABISBAIXO?
(Professor Alves)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO ZERO



O PEMA DE QUE FOI EXTRAÍDO ESSE TRECHO FOI ESCRITO EM MAIO DE 2007. SERÁ QUE EU TINHA RAZÃO?

(...)
Neste país todo embusteiro mente,
mente o prefeito e o governador
e descaradamente o presidente,
deputado, síndico e vereador.

Mas é tanta mentira que se conta
Por este imenso Brasil afora
que a população, coitada, anda tonta
ontem, hoje, pela manhã, agora.

O tal presidente é pura mentira,
dizia que já foi trabalhador
eleito, o calhorda ainda delira
dizendo a um certo governo se opor.

Pensa que ainda está no palanque
mentindo e enganando continua,
mas assiste a tudo isso, estanque,
a população rota, seminua.

O hipócrita fala em educação
com projetos sempre mirabolantes,
mas como tudo é só embromação
a situação vai ficar como antes.

Como dissera certo americano,
Educação aqui é só projeto,
e nós vamos viver sempre de plano.
Também com um líder analfabeto!

Aqui no Ceará, a coisa tá feia,
de educação é bom nem falar,
a população estudo não anseia,
o governo não cogita mudar.

Havia direitos anos atrás,
tidos pela classe de professores,
disse: vocês isso não terão mais,
um governo feito por opressores.

À época, Ciro era governador,
a mãe do troço fora professora,
ou queria vingar alguma dor,
ou detestava sua genitora,

Veio agora seu irmão pra mandar.
Durante o período de eleição,
Diziam: vamos no rapaz votar!
professores, oh classe de bestão.

Eu dizia, quase babando, indignado:
Você esqueceram o que o Ciro fez?
Vamos é todos ficar estribado –
diziam – pois esse é bom sobralês.

No seu primeiro dia de mandar
desculpem-me, mas eu achei foi bom –
mandou aos funcionários não pagar,
ordenou com voz grossa, em bom som.

Depois cortou verba da educação
fechou escola, humilhou professor,
sem pudor, vergonha; sem compaixão,
mudou o governo lá pro interior.

Mas o povo é besta e merece apanhar,
pois não é que um colega que encontrei,
O idiota deu logo de falar,
defendendo o cujo, como lhes direi:

O governo sabe o que tá fazendo,
deixa, por Deus, o homem trabalhar,
só desemprega quem tá merecendo
pois de algum lugar precisa tirar.

Vão ver como a vida vai melhorar,
a polícia vai vigiar quarteirão,
o nosso salário vai muito aumentar
e o povo enfim vai ter educação.

Ledo engano, muito triste ilusão,
nosso povo vai ter menos saúde,
quem precisa, menos educação,
sem segurança, se é morto amiúde

O amigo leitor, se é que algum há,
com seu semblante todo franzido
a mim cismado assim perguntará,
com o olhar baixo, humilde, entristecido:

E se tivéssemos em outros votado,
teríamos nós melhor escolhido?
Se ao poder, outros fossem levados,
essa escolha melhor teria sido?

Teríamos nós melhor presidente,
um governador macho, despachudo,
que fosse governante competente,
ou outro prefeito, honesto, sisudo?

Responder-lhe-ei à frase popular:
ora pois, creia em Deus que é grande o santo,
eles só querem nos sacanear,
a político algum não importa o pranto.
(...)
Professor Alves, maio de 2007; mas, infelizmente, sempre atual

POR ISSO DEVEMOS CONTINUAR EM GREVE!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Que mundo maluco!



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Sociedade da Hipocrisia
O governador apresenta uma proposta absurda de piso salarial para os professores.
Na Seduc, ninguém concorda com a proposta do governo, mas finge concordar com medo de perder seus cargos.
O governador pressiona a Seduc para pressionar as CREDES. Nas CREDES, ninguém concorda com a proposta do governo, mas finge concordar com medo de perder seus cargos.
Pressionadas pela Seduc, as credes pressionam os gestores escolares para conterem a greve.
Entre os gestores escolares, ninguém concorda com a proposta do governo, mas finge concordar com medo de perder seus cargos.
Os gestores escolares ameaçam os professores que fizerem greve, sobretudo os temporários e os em período probatório.
Por trás de cada pressão, de cada ameaça, o desejo ardente da desobediência.
Os gestores escolares torcem para que os professores, inclusive os temporários e os em período probatório, sejam desobedientes e façam a greve.
As CREDES torcem para que os gestores escolares sejam desobedientes e não façam tanta pressão sobre os professores.
A Seduc torce para que as credes sejam desobedientes...
Por trás de cada torcida, uma pontinha de inveja...
Inveja dos professores, que têm liberdade de expressão, que podem protestar, que podem extravasar, que podem até se divertir enquanto protestam e que, neste contexto, são quem detém o poder! (embora ainda não tenham se dado conta disso).
É nessa situação que se percebe: liberdade é um valor inestimável! Não há comissão que valha a pena de perdê-la!
E, no alto do olimpo, a deusa nêmesis continua a esfregar as mãos, sorridente, deleitando-se dos reles mortais...
Já a sábia Atena manda seu recado nos brasões das universidades por onde todos passaram - lembrem-se das velhas máximas:
"Virtus unita fortior" (máxima da UFC, que significa "a força unida é mais forte", equivalente a "a união faz a força")
"Agere sequitur esse" (máxima da uva, equivalente a "o fazer segue o ser", ou, nas palavras de karl marx, "a ação faz o homem")
"lumen ad viam" (máxima da UECE, que significa "uma luz para o caminho", e a luz é o conhecimento, única forma de libertar o homem das trevas! - já diziam os renascentistas!)
"sapientia aedificat" (máxima da UFPB, "a sabedoria edifica").
Abraços,

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO

Eis a cara da Educação no Ceará! E olhe que  não é a mais feia do país! Imagine a mais feia!

Como diria Galvão Bueno:
TÁ FEIA A COISA!

sábado, 30 de julho de 2011

AVALIAÇÕES

     Sempre que chega época de avaliação, é um "Deus-nos-acuda". E isso não ocorre só na escola pública não, mas aqui é mais cruel. A direção e a coordenação, preocupadas em prender os alunos não sabe que formato dar a esse momento. Se realiza as provas no início das atividades e libera os alunos depois em seguida, se haverá aulas antes e só depois é que serão realizadas as avaliações... ainda não sei qual é o problema. Mas ele existe.
      Na nossa escola, a angústia não é menor. Entretanto, nossa diretora encontrou uma saída razoável. E espero que ela mantenha esse padrão, pois, dos formatos até agora experimentados, esse é o melhor, pelo menos sob a minha ótica. Alguns professores não gostam, pois preferem o primeiro, ou seja, que as provas sejam realizadas logo e os alunos liberados.

       O formato que foi aplicado nas últimas avaliações é o seguinte: temos quatro provas por turno. então duas são realizadas na primeira parte do turno, e as outras duas, na outra parte. Assim, os alunos podem terminar as provas cedo, irem passear pelo pátio, namorar, bestar e depois retornam para a outra bateria de provas. A escola não se compromete com uma possível visita de um inspetor da SEDUC, os professores não pagam o mico de ficar tentando segurar alunos desocupados e tudo ocorre sem estresse.
(Professor Alves)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

BAIXARIA NA ESCOLA

           Segunda feira, 16 de maio, cheguei à escola e fui "presenteado" pelos alunos com alguns videos de briga entre adolescentes. Para minha surpresa, em uma dessas contendas animalescas, uma das protagonistas era uma de nossas alunas do 8° ano. No vídeo o que vemos é uma baixaria só. Duas meninas se engalfinhando na terra aos gritos histéricos de uma multidão alucinada. Meninas entre 13 e 15 anos, mostrando para todos que nasceram para serem nada. Pergunto então onde está a família, a Escola e o governo que não combatem essas atitudes. Fiquei morto de vergonha, porque todos os dias falo para essas crianças em dignidade, amor próprio, mas não adianta. Urge-se que se faça algo. Não adianta alguém me dizer, como tentaram fazê-lo, que a escola não tem nada com isso. É muito burra uma pessoa que assim pensa. Se a escola não tiver, quem é que vai ter? Pais e mães eles e elas não têm. Pelo menos parecem não ter. Segue o vídeo da minha maior vergonha té agora.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

SOBRE COMPORTAMENTO




        A música Serra do Luar, de Walter Franco, é muito feliz quando afirma que “viver é afinar um instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro”. Leila Pinheiro com sua voz magistralmente afinada transformou a letra de Walter Franco, de quem é também a música, num hino à canção popular brasileira. Adoraria discorrer hoje sobre música, sobre poesia. Mas como educador estou muito preocupado com o comportamento dos alunos brasileiros, sobremaneira daqueles pertencentes à escola pública.
               Não preciso assistir ao programa do jornalista Caco Barcelos para falar a respeito de como anda o comportamento dos alunos Brasil a fora. Ano passado, outubro se não me engano, um menino de dezesseis anos disse que iria me matar. Disse isso após um entrevero que poderia perfeitamente ser evitado. A polícia passou uns três dias dentro da escola, e eu achei tudo uma grande palhaçada. Se o garoto quisesse me tirar a vida, tê-lo-ia feito a qualquer hora. Não estou afirmando que não é verdade, pois ouvi isso de sua própria boca. Mas o que fazer?  
               No dia em que ocorreu esse incidente, estava justamente pensando no fato de alguns garotos e garotas não frequentarem a escola conforme devem, regularmente e engajadamente. Alguns deles e algumas delas passam até vinte dias, e outros até mais, sem aparecerem na escola. Esta, por meio de seus gestores, não procura saber o que está acontecendo, por que eles e elas faltam tanto. Estes e estas quando aparecem na escola, com certeza, não o fazem com o intuito de estudar. Alguém discorda? Ele e/ou ela aparecem na escola porque naquele dia erraram o caminho só Deus sabe de onde. Consequentemente ficam na sala boiando e azucrinando a vida dos colegas e professores. Eu ia exatamente encaminhar o garoto ameaçador para conversar com a diretora e pedir que o pai do mesmo viesse à escola, para saber o que estava se passando com o menino, quando ele se insurgiu, tentou me agredir. Nisso apareceu o vigilante que o segurou e o levou à diretoria. Penso que se a Escola Pública (e aqui estão todas as escolas públicas do país, cuja disciplina ficou nos anais de sua história remota) tivesse um pouco mais de ações preventivas, esses incidentes nunca aconteceriam. As escolas não podem ser depósitos de  crianças. Essas pessoas que estão na idade escolar precisam ir à escola sabendo que há um propósito para elas, os pais precisam dizer isso em casa, precisam amar seus filhos, mesmo que eles tenham vindo ao mundo de forma indesejada (mas isso é assunto para outra  postagem), a Escola precisa construir, juntamente com seus quadros, seu conjunto de regras sobre o que os alunos e alunas podem ou que não fazer! Alguém certa vez me disse: “Professor, isso se chama Regimento Escolar, e a escola já tem o seu.” Que se dane o nome, de que adianta um nome tão pomposo se não serve pra nada!? Melhor não tê-lo!
               O leitor deve está perguntando: “E a Serra do Luar, e a Leila Pinheiro, onde é que entram na história?” Eu respondo: “Não entram, iam entrar.” Eu iria escreve sobre a vida, sobre o instrumento, sobre melodia, sobre dança, sobre pássaros. Mas fica para depois.
                                 Professor Alves

terça-feira, 12 de abril de 2011

NÃO FAÇO PARTE

     
      Suponhamos que este blog tenha pelo menos um leitor. É claro que ele esteja sentindo minha ausência. é exatamente por esse único imaginário leitor que venho me postar aqui ao computador para postar aí no blog. Nem que seja para dar satisfação aquele infeliz, que por não ter o que fazer, de vez em quando procura notícias da nossa escola. Pois bem, estou ausente das postagens porque estou ausente da escola. Tenho uma hérnia de disco, com a qual venho lutando há três anos, desde 2008. Como tive uma crise, o médico pediu para que me afastasse da escola para tratar desse mal, com fisioterapia, agora pediu hidroterapia. Espero em breve retornar as atividades normais.
           Para não deixar meu amigo leitor imaginário sem um texto, posto aqui algo interessante que aconteceu na escola em evidência. Nossa diretora resolveu criar uma camisa com os dizeres "EU FAÇO PARTE". Entregou  a cada funcionário um exemplar, que alguns usam à guisa de fardamento. Alguns até compraram um outro exemplar para não danificar suas roupas. Eu também passei a usar a blusa pelo menos duas vezes por semana. Até que descobri que não faço parte. Foi quando no começo deste ano me entregaram o horário todo feito, sem me consultar. Incluindo as turmas. Antes eu trabalhava com ensino fundamental. Puseram-me para dar aulas no Ensino Médio. Nenhum problema com os níveis. O problema está com a falta de comunicação. Custava fazer uma pequena formalidade para ame questionar sobre essas possíveis mudanças? Afinal era minha rotina que iria mudar drasticamente.
         Deixei então de usar o uniforme porque constatei: eu não "FAÇO PARTE"!

segunda-feira, 28 de março de 2011

FUJONA

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqG_3G-ByWDqssrc8Umoe2NxQ7u3dFG79I83SDKbmmSr7_S7no4_wFiRLmoyApnUsxbE1ZXfZ982ylHOQRRJVXuRQsy3I0o5nf44TKT_fQSOOdmBY7axa1XN5kcXS9g9ZzPws3rPrcnhKK/s1600/ZC_465B.jpg
         Sexta-feira, dia 25/03 não houve nada de anormal, apenas o fato de, pela falta de um professor, ter sido criado um horário "especial", mas correu tudo bem e os alunos tiveram aula até o final do período de aula. É necessário que salientemos que neste ano as aulas estão transcorrendo  normalmente, e não me lembra que os alunos tenham saído algum dia antes  do horário previsto, e isso é uma vitória, pois em outras escola, por dá-cá-aquela-palha os alunos vão para casa, às vezes, antes do recreio.
         Hoje, segunda-feira, não houve nenhum rebuliço na escola. As aulas transcorreram normalmente. Apenas uma aluna saiu da sala antes da quinta aula. Se embarafustou em algum lugar e não assistiu à quinta aula. É sempre a mesma, enquanto a direção da escola não lhe chamar  atenção, ela vai achar que é melhor que os demais. O pior é que os alunos notam isso e ficam deveras chateados. E com toda a razão. Ano passado havia uma outra que todos os dias chegava à escola bem depois do horário de entrada e saía antes de tocar o fim da aula. Isso quando vinha para a escola. No final do ano ficou para a recuperação só em Português. Quando precisou das notas de Português para ingressar numa escola profissionalizante, não as tinha suficientemente. Perdeu a vaga. Bem feito!

quinta-feira, 24 de março de 2011

GRÊMIO E SUINGUEIRA

         Na escola, motivo deste diário, existe um Grêmio, como deve ser em toda escola de Ensino Médio. Antes não havia. eu andei conversando com os alunos em sala e despertei o interesse pela ideia da criação do órgão representativo dos estudantes. Entretanto a diretora, pouco democrática, percebeu algum risco e resolveu ela própria coordenar a "eleição" para o Grêmio. Não deu outra. Foi apenas um faz de conta. E estava eleita a diretoria do Grêmio.
http://3.bp.blogspot.com/_Hfp6lANkcAY/
           Pois bem. segunda-feira 21 de março (2011), o Grêmio realiza sua primeira atividade do ano letivo: a presidente do Grêmio se dirige a um computador, baixa 15 músicas de suingueira (Parangolé, Guig Ghetto etc) e no intervalo coloca o som no pátio para um bando de... dançar. É mole. Creio em que isso só ocorre aqui.
          Acredito em que uma eleição para o Grêmio estudantil deve ser um momento de formação intelectual e cidadania. Infelizmente a escola perdeu esse momento democrático. Democracia não é o forte do nosso núcleo gestor. Ano passado mudou o fardamento e não consultou os alunos sobre como deveria ser a nova blusa da farda. Imagino que em uma escola democrática os alunos devam ser consultados sobre assuntos de seu interesse. Até porque, se assim o procedermos, os alunos não poderão questionar a escolha da maioria. Volto a imaginar os alunos discutindo sobre a nova blusa da farda, desenhando modelos, participando, enfim, de algo que eles trarão em seus corpos durante alguns anos.
            O uso do celular na nossa escola é um câncer. O combate amiúde deve ser o antídoto. Os alunos atendem ao telefone a qualquer momento, em sala, sem nenhum constrangimento. Fiquei impressionado com essa prática na sala do terceiro ano. 
            E haja suingueira!
(Professor Alves)

domingo, 20 de março de 2011

18/03/2011, FIM DA PRIMEIRA SEMANA

        Hoje, houve uma palestra sobre drogas e seus malefícios. Bem interessante para uma escola repleta de adolescentes  na idade de descobertas. Muito bem vinda mesmo. Não sei como foi a palestra pela manhã, pois só estive na escola no período da tarda. Espero que pela manhã tenha sido mais proveitosa. Pois pela tarde foi um desastre.
        Alguém pode está pensando que o motivo do desastre foram os alunos. Ledo engano! Antes de começar os trabalhos, a palestrante teve alguns problemas com o material, e os alunos, claro, ficaram à vontade. Isso irritou a moça que, ao dirigir a palavra, disse que era policial civil, numa clara atitude de intimidação. Aquelas palavras surtiram efeito contrário nos alunos, que continuaram a brincadeira. Um aluno me cutucou e comentou: "Por que todo policial é besta!". Como não Conseguia a atenção da plateia, a policial pediu que quem não quisesse ouvir se retirasse, afirmando que se não fosse atendida, ela mesma iria lá e os colocaria para fora. Metade da sala saiu, contrariando todo o objetivo do trabalho, pois boa parte dos que se evadiram precisam de cuidados devido ao seu envolvimento com as drogas ou por está muito próximo a elas. Os que ficaram são bons alunos e boas alunas, ou alunos e alunas mais ajustados, os quais não precisam e jamais precisarão desse tipo de palestra. Ainda é bom lembrar que a policial civil ficava a todo instante lembrando que para ela não importava se os meninos e meninas usavam, vão usar, ou não drogas. Ela estava apenas realizando um trabalho. 
       Aquilo que deveria ser um serviço para a comunidade escolar acabou sendo um tremendo deserviço. Seria bom que esse pessoal acostumado com truculência, ao se oferecer ou ser convidado para dirigir uma palestra desse quilate, tivesse um preparo pedagógico antes.  

sexta-feira, 18 de março de 2011

DESIGUALDADE NA ESCOLA

         Hoje quinta-feira, dia normal. Afora algumas atitudes levianas ou infantis mesmo, por parte de alguns alunos, que devem ser combatidas dia após dia. 
http://www.brasilescola.com/upload/e/Tecno%2001%20-%20EDUCADOR.jpg
         A primeira dessas atitudes ocorreu em uma sala do 9° ano  (último do Ensino Fundamental). Duas alunas tentaram ridicularizar duas outras novatas, na turma. Em 2010 elas estavam em salas separadas,   mas já havia observado certa picuinha entre as mesmas. Sempre da parte dessas duas que acham as outras penetras. É um caso de educação. Há aí também um pouco de "inveja", uma vez que as duas que chegaram à sala aparentam ter um padrão de vida melhor, vestem-se melhor, possuem mais bagagem intelectual, expressam-se melhor; enquanto que as outras falam às gargalhadas, usam sandálias tipo havaianas, não possuem celular e assim vai. São as desigualdades da escola pública que geram esses tipos de comportamento. Acho que a ínfima melhoria da escola pública está tornando-a uma instituição mais heterogênea, numa mistura de alunos muito pobres, outros pouco pobre e alguns até de classe média baixa, que tem acesso aos bens de consumo difundidos pela mídia.  
      É algo a se refletir. É preciso que a escola como um todos veja isso e procure uniformizar os alunos em todos os sentidos, a começar pelo fardamento. Vejo que à medida que se permite o uso de vestuário que não o fardamento padrão, assim como o uso dentro das salas de aparelhos celular, estamos concorrendo para difundir desigualdades, o que gera atitudes dessa natureza.
http://2.bp.blogspot.com/_EOd5IgdswKo/

        O outro fato deplorável aconteceu na sala de aula do 8° ano B, já mencionada em postagem anterior.  E é pena que irá se repetir. Essa sala é uma espécie de depósito de alunos , foi formada com o pior que a escola tem, Não devemos culpar o núcleo gestor, foi uma forma encontrada para melhorar o ensino, colocando numa sala os melhores, noutra os piores em todos os sentidos, conteudísticos e disciplinares. Há um aluno que possui tendências para grande liderança negativa. coordena as brincadeiras de mau gosto e medra os demais, os quais sentem quase necessidade de segui-lo. tive de pedir para que saísse de aula, mas percebi rumores pela sala que que ele estava preparando um "pega" na hora do recreio. Pelo que me pareceu, ele corre atrás dos colegas e bate neles, a ponto de alguns tentarem se refugiar na secretaria, na sal dos professores, banheiros etc. 
           Notamos logo tratar-se de mais um caso de Educação comportamental. O que vai ocorrer já sabemos: ele vai ser retirado de sala sistematicamente até que ao faltar com respeito com o núcleo gestor, e só quando isso ocorrer, será excluído da escola. Entretanto nos anos anteriores ele já teve esse comportamento e nada aconteceu, continua na escola. É bom lembrar que ele é BRANCO e não pertence à classe dos mais pobres. Lembro-me que nos anos anteriores, alunos de pele mais escura, por menos, já tiveram esse destino, não só nessa escola, mas nas outras por que passei.
(Professor Alves)

quarta-feira, 16 de março de 2011

XIXI CARD

       Hoje deu para perceber que atitudes executadas no ano anterior e que foram reimplantadas neste ano para melhorar a disciplina continuam dando resultado positivo. É o caso do cartão do professor. Um cartãozinho com o nome do professor que permite aos alunos irem ao bebedouro e/ou ao banheiro portando esse instrumento. Com efeito, desde sua implantação ano passado, acabou o ir vir de alunos pelo pátio.  São atitudes como essa, simples mas que servem de orientação para o comportamento dos alunos.
                Nossa diretora de vez em quando tenta através do microfone implantar ordem na escola. Sempre lembra aos alunos quais são as normas da instituição. Entretanto se não houver um instrumento visível, como uma cartaz com essas recomendações seguidas das punições cabíveis, nada será resolvido. Já solicitamos ao núcleo gestor esse instrumento, mas até agora nada foi feito. Poder que um dia o bom senso prevaleça.
(Professor Alves)

CHUVA E PREGUIÇA

         Hoje, não houve nada de anormal a não ser uma atitude dos alunos ligada a comportamento que deve ser ressaltada. Aliás duas atitudes. 
         A primeira deu-se na turma de 8° ano. Trata-se de uma turma altamente indisciplinada, formada por alunos que advieram de uma turma muito difícil e que deveria ser   toda reprovada, se fosse levado em conta seu rendimento escolar. Claro que isso não se deve fazer, pois vai de encontro a qualquer senso Educacional. Cheguei à sala e a encontrei toda suja com uma espécie de tinta, que poderia ter sido produzido com carvão ou lixo qualquer. Alunos riam e acompanhavam um outro que deve servir a eles como mestre da desordem. Alunos, com certeza,  desafiadores do poder de fogo do núcleo gestor fizeram aquilo com intuito de mostrar seu poder de baderna. Entrei em sala e dei minha aula com dificuldade, tendo que desmontar grupinhos e chamar a atenção uma vez e sempre, preocupado  com o desenrolar dos dias letivos.
        A segunda foi com relação à escola inteira. Ano passado, sempre que chovia, os alunos não compareciam à escola. Geralmente, se contabilizados, não davam a quantia de dez, logo não havia aula. Entretanto, hoje chovia muito, mesmo assim o número de alunos foi maior e mais satisfatório do que ontem, primeiro dia de aula e sem chuva. E eu me pergunto por que no ano anterior, se chovia eles não iam à escola, e hoje foram. A resposta é simples: não iam porque não queriam, preguiça. Hoje foram por ser o início do período letivo, novidade, queremos ver quem serão nossos "parceiros". Será preciso aguardar a próxima chuva,  quando as aulas não serão mais novidades. Isso é perigoso pois perdemos muitos dias letivos em função da preguiça dos alunos e não da chuva.
(Professor Alves)

segunda-feira, 14 de março de 2011

14/03/2011, 1° DIA DE AULA,

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      Primeiro de tudo, não cabe aqui relatar pormenorizadamente todos os detalhes de um dia nessa escola, mas apenas aqules que chamam a atenção de forma positiva ou negativa. Hoje, primeiro dia de aula, me deparei com um vício das escolas públicas: falta de planejamento. Embora tenha havido uma semana inteira de planejamento e todos os professores já estejam lotados, não havia um horário pronto quando cheguei para trabalhar. Fui surpreendido pelo fato de eu não ter aula hoje. O que surpreende é o fato da falta de comunicação, pois como dizia Abelardo Barbosa "quem não se comunica se trumbica". No momento em que a comunicação tornou-se "conditio se ne qua non" para a vida das pessoas e a acessibilidade  para essa ação quase nos obriga a exercê-la - telefone fixo, móvel, e_mail, grito, redes sociais - eu não ter recebido um telefonema ou um e_mail informando previamente, até para melhor planejamento pessoal e escolar, informando meu horário desta segunda de manhã indica que a Educação brasileira vai mal.
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        Quando perguntei sobre se teria aula à tarde, a resposta foi "ainda não fizemos o horário da tarde". É mole! Isso quer dizer que, como ainda estamos no horário da manhã - agora são 9:11h -, ainda posso ter surpresas à tarde e algo mais para postar neste primeiro dia de aula.