segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SE VOCÊ NÃO É DA “FAMILY”, QUE SE DANE!


  
              
                                                                                        
      Leio nos jornais, que os juízes poderão entrar em greve. Reivindicam aumento salarial que, se conseguido, aumentará um mísero salário de R$ 26 mil para uns parcos R$ 30 mil. Alguém em sã consciência acha que eles não conseguirão o tal aumento? Ou será que sua greve será declarada ilegal?
     O referido episódio me vem à mente, quando os professores da rede estadual de ensino do Ceará optaram por paralisar suas atividades na luta por melhorias salariais e melhores condições de trabalho. O governador do Estado, que pertence a um partido dito “socialista”, afirma que não haverá negociação; o que nos parece por demais estranho, uma vez estarmos numa democracia.  E, dizem, que quando não temos muito em que pensar, acabamos pensando coisas à toa. Como não sou o Eike Batista (aquele a quem o Ceará vende água a preço de banana, enquanto vários cearenses não têm acesso ao precioso líquido) e como tal não perdi R$ 2 bilhões na bolsa, fico pensando em coisinhas. Por exemplo, penso onde estudam os filhos do excelentíssimo senhor governador, da secretária de educação? Como disse, pensamentozinho à toa, pois não tenho o menor interesse em saber. Sei, contudo, que, se crianças, não estudam nas escolas públicas, que caem aos pedaços. Se mais jovens, não estudam na Universidade Estadual do Ceará - UECE, vítima da inépcia e do descaso de sucessivos governantes. Certamente ajudam a encher os cofres de instituições privadas nacionais ou estrangeiras. Aos que não são da “family” resta aqui e ali um curso técnico. Para que pobre com nível superior, não é mesmo, Senhor Governador?
         Dizem que no Butão, o rei sempre se curva na presença de professores. É uma maneira de o soberano mostrar aos seus súditos a importância da educação. A importância dos mestres. No Ceará, conforme o jornal O povo do dia 24/08/11, os professores organizaram um protesto e foram recebidos pelo batalhão de choque da polícia militar. Longe de querer comparar o Butão com o Ceará. Enquanto lá eles já trabalham com a FIB (Felicidade Interna Bruta), aqui ainda baseamos nossa vida no PIB (Produto Interno Bruto), no “prendo e arrebento” da ditadura, maquiada de democracia.
         Os filhos dos nossos governantes não precisam da minha (nem da sua) preocupação. São bem nascidos e já estão muito bem encaminhados na vida. Minha preocupação, no entanto, é com os severinos e as severinas que moram lá nas brenhas. Aquelas criaturinhas miseráveis que nunca andaram nem de avião nem de limusine e que, muito provavelmente, jamais irão a Nova York com  
sua “family” (incluindo suas futuras sogras). Como naquele poema, tudo que conhecem é o beco. Na falta do carro pau de arara, nada de escola. Na falta da escola, nada de merenda, nada de comida, nada do mínimo que já não possuem. Mas quem se importa se os nossos mestres recebem um salário ridículo. “O que importa é o que já não importa o que importa”. Quem se importa com as desocupações das casas daqueles que terão que sair do caminho, para não enfear a cidade à espera da Copa de 2014? Atitude semelhante fez o autoritário governo chinês ao receber os últimos jogos olímpicos.
           Aqueles que deveriam trabalhar para e pelo povo querem mais é que o povo se exploda. Esse povinho sem modos, pobre e feio que não é da “family”. Esse mesmo povinho que nunca foi a São Paulo Fashion Week, nem pode passar férias no circuito Paris - Nova York – Tóquio – Milão. Para esse povo um aquário basta. Mesmo que esse povo não queira um aquário. Mesmo assim terão que pagar por aquilo que não precisam. Tem sido assim nas democracias modernas.
             O governo “democrático” do Ceará deveria se envergonhar da miséria que paga aos seus professores. Mas querer que político tenha vergonha é querer demais. Espero que os professores mantenham a greve e que a eles se juntem seus alunos e suas famílias. Corre-se o risco de, em alguns dias, a justiça considerar a greve ilegal. Greve de motorista, professor, policial é quase sempre declarada ilegal. É assim que tem se portado a justiça por essas bandas. Justiça com dois pesos e duas medidas. Ou seja, quando não falta, demora. E, conforme Rui Barbosa, justiça que atrasa não é justiça. Mais um pensamentozinho à toa: Se quem ganha R$ 26 mil está reclamando, imagine quem ganha R$ 1.800,00.
             O jornal O Povo do dia 06/08/11 trouxe a seguinte notícia: “Cid e aliados debatem um “projeto socialista” para Fortaleza”. É um socialismo made in China?Alguém aí precisa explicar ao chefe do executivo e aos seus aliados o significado do termo socialista, pois as ações e tomadas de decisão desse governo estão mais para o autoritarismo do que para qualquer coisa que objetive o bem estar da população menos favorecida, incluídos aí os severinos e severinas que estão sem aula e sem comida. Mas quem se importa?
  Por prof. Carlos Carvalho 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CHEGA DE TRAIÇÃO



         Quando eu era pequeno, lembro-me de que meu pai falava muito em sindicato. Ele era pedreiro, explorado, fazia horas extras por cima de horas extras (por isso o víamos tão pouco) e nem sempre recebia por isso. Entretanto o sindicato nada fazia para melhorar sua vida e de seus companheiros. Era a época da ditadura militar e as instituições eram rigorosamente atreladas aos desejos dos donos do poder. Sindicato era uma entidade meramente assistencial. Quando íamos lá, era para uma extração de dente ou para pagar o tal SINDICATO.
       É bom lembrar que essa palavra deriva do latim que já era proveniente do grego sindikós, que significa advogado, aquele que defende. Em poucas palavras, o sindicato é uma instituição formada por pessoas de uma mesma atividade laborativa e cujo ÚNICO intuito é defender os interesses comuns da categoria. Meu pai, coitado, não conheceu essa instituição com ela deveria ser.
          Hoje não temos mais uma ditadura militar por trás do poder. Entretanto o SINDICATO               ( APEOC) ao qual sou filiado, assim como milhares de colegas de magistério, se nega a defender os interesses da categoria, preferindo, ao invés da luta, a covardia de baixar a cabeça ao governo e pedir aos professores que abandonem a frente de batalha. Uso esse termo porque é o mais indicado quando se está em combate. Quando a luta se está acirrando, quando o adversário já mostra visivelmente que está cambaleante, apesar de arrogante, quando nosso exército se aproxima da vitória, a APEOC vem e nos pede para retroceder. Lembra-me rapidamente a traição de Carlos Prestes, quando pediu ao povo apoio ao inimigo comum, Getúlio Vargas, esquecendo de vez o que o inimigo fizera, há pouco, com Olga Benaro. Assim como Carlos Prestes, a APEOC diz ser um recuo estratégico. Eu chamo a isso COVARDIA e TRAIÇÃO.
        Terminada a greve, a APEOC vai voltar a oferecer apenas pilates, serviços odontológicos, soteio de estada em casa de praia e outras atribuições de uma mera associação (não se esqueça que esse A de apeoc é de associação e não de sindicato). E eu, coitado como meu pai, vou me sentir abandonado, entregue a uma ditadura que controla os sindicatos e humilha toda a nação brasileira. A única diferença é que essa ditadura não é militar, mas civil!
       Por isso VOU ME DESFILIAR. E não é pelos reais pagos, que se juntam aos milhares de outros e se tornam milhões nos cofres da instituição. É pela vergonha de não ser protegido por quem me deveria proteger. Sinto-me órfão, como milhares de crianças Brasil a fora que, mesmo tendo um pai, se acham inseguras.
E VOCÊ, VAI FAZER O MESMO OU VAI ACEITAR ESSA TRAIÇÃO CABISBAIXO?
(Professor Alves)