sexta-feira, 20 de julho de 2012

ESCOLA, REUNIÕES E DEMOCRACIA



Durante os cinco anos que trabalhei no comércio, de 1983 a 1988, me habituei ao ritmo das reuniões mensais. Nesses encontros, eram abordados vários assuntos, como novas diretrizes da empresa, promoções, necessidade de  cumprimento de horário, prorrogação de horário de trabalho, promoção de funcionários. Vez por outra uma ideia de um colega era posta em prática e isso também era motivo de uma reunião, para a devida divulgação e incentivo aos demais. Nas duas empresas que trabalhei durante esse período essa era a regra.
Logo que comecei a luta na profissão de professor, fui trabalhar numa tradicional escola de Fortaleza, Colégio Brasil. O diretor da escola, também proprietário, se orgulhava em falar da gestação da escola, “como se fosse um filho”.  Fazia reuniões amiúde com os professores e funcionários. Entretanto não permitia que ninguém questionasse as regras da instituição, assim como o andamento dos trabalhos. Certa vez um professor propôs que alterasse não lembra que determinação. A autoridade máxima do Colégio Brasil disse-lhe que não podia fazê-lo porque “se cada professor que entrar nessa escola propuser algo, e eu modificar, em breve não saberei que escola administro”. Achei bastante razoável essa colocação. Nas reuniões, apesar de não podermos propor nada (tínhamos apenas que ouvir) não faltava nenhum profissional até porque essas reuniões eram regiamente pagas ao fim de cada uma delas. A escola faliu um dia por questões extraescolares.
Em outra escola, Máter Amabilis, escola pertencente a uma congregação religiosa, as reuniões eram mais amiúdes ainda. Lá os professores não só falavam como também eram ouvidos. E sempre havia algumas modificações no andamento dos trabalhos. Pequenas, mas que representavam ajustes na condução do ano letivo.
Depois vieram Christus, Farias Brito, Salesiano Dom Lustosa, Santo Tomás de Aquino e uma infinidade de outras instituições, não necessariamente nessa ordem, e em todas as reuniões se davam. Umas com mais discussões outras com mais audições, mas todas contribuíam para se resolverem alguns imprevistos, inclusive mau comportamento de alguns profissionais ou de alunos.
Veio então a escola pública. Com ela a decepção. Descobri de repente que todo mundo manda na escola: porteiro, pca, moça ou moço da limpeza e, pasmem, até o diretor ou diretora.  Sarcasmo a parte, quero salientar a falta de compromisso de alguns gestores da “rem publica”. Já passei por algumas escolas do estado, e na maioria o que se vê é o samba do crioulo doido, a desorganização é grande. Entretanto as reuniões, eventos essenciais para se colocar a casa em ordem, existem, como símbolo de democracia, embora o demo não tenha muita vez. Quando trabalhei no João Nogueira Jucá, as reuniões eram realizadas para se oficializar determinações da diretora. Se um aluno estava dando muito trabalho, por exemplo, dona Kênia, reunia os professores, apresentava a transferência do indivíduo e assinava-se a ata por todos. Assim ela se isentava da culpa e se protegia dos possíveis ataques do Conselho Tutelar.  
Há alguns meses postei neste blog a respeito da falta de democracia na escola em que trabalho atualmente. Reportava-me à época ao lema da escola “Eu faço parte”. Na ocasião chegava eu à conclusão de que não “faço parte”. Aconteceu outro fato interessante neste ano que me ajuda a concluir que ninguém faz parte, pelo menos nós, professores. No começo do ano letivo, numa reunião, evento raríssimo nessa instituição pedagógica, alguns professores propusemos que se fizesse um documento estabelecendo normas de conduta para os alunos, desde a entrada até a saída, o qual os mesmos deveriam assinar se comprometendo com as regras. Preocupamo-nos com isso devido à heterogeneidade de nossos clientes. Aparentemente ficou tudo acertado. Entretanto no dia seguinte alguém da secretaria apresentou a cada professor um código de conduta, com solicitação para que se assinasse o documento. O feitiço virara contra o feiticeiro. Tomei aquela medida como represália. Além de não haver reuniões, é um perigo tentar propor algo. Não sei se os demais também entenderam assim. O documento dos alunos não foi elaborado, e o comportamento, digo, mau comportamento por parte do corpo discente continuou. 
Um dos graves problemas que enfrentamos é com relação ao uso, digo, mau uso do celular por parte deles e delas.  Não faz muitos dias, um aluno publicou no “facebook” a foto de outro montado numa carteira, como se fosse a carteira o jumento. Ao fundo ainda se via o professor tentando controlar a balbúrdia. Tenho certeza que uma pequena reunião serviria para se tomarem, a partir desse fato, medidas contra esse sério problema de conduta. A autoridade máxima do núcleo gestor da escola, entretanto, resolveu ela mesma chamar, ATRAVÉS DO “FACEBOOK”, a atenção do aluno jóquei, e ainda criticou de leve o professor “infrator”. Recentemente, assistindo a um filme cujo nome me foge à memória, vi uma cena no mínimo pedagógica. Nela, antes do jantar, uma mãe passa uma cesta para que os filhos, filhas e amigos, que lá se encontram, ponham seus celulares e afins, informando que devolveria os objetos após a refeição. Achei maravilhosa a ideia. E pensei que seria interessante se a escola adotasse esse recurso. No início das aulas, alguém passaria com uma cesta e recolheria os celulares, de quem os levasse, e os devolveria ao final do turno. Mas desisti de dar essa ideia para o núcleo gestor da nossa escola. É bem provável que a cesta passasse, mas  apenas para recolher o celular dos professores.
(Professor Alves)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A PORTA DE SAÍDA DA POBREZA É A EDUCAÇÃO


13/03/2012 "A porta para sair da pobreza é a educação", afirma o senador Cristovam Buarque.


            O senador da República, Cristovam Buarque, esteve ontem, 7, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), para fazer, a pedido dos bispos, a análise de conjuntura política e apresentar um perfil da pobreza no país, na primeira reunião do Conselho Permanente da CNBB do ano.

            Cristovam levantou durante duas horas, quatro perguntas essenciais para caracterizar a pobreza no país, que são: O que é ser pobre? Porque há pobreza? Porque nos preocupamos com os pobres e como erradicar a pobreza? Nesta mesma linha, o economista definiu cinco índices de pobreza: a falta de alimentação; a pouca ou nenhuma educação básica; o não acesso aos serviços de saúde existentes; a falta de um terreno para construção de moradia e não ter condições de pagar o transporte público.

            "Costuma-se dizer que é pobre quem ganha menos de dois dólares por dia. A linha que separa os pobres dos que não são pobres é linha vertical - quem tem acesso e quem não tem acesso. Pobreza é a falta de acesso aos itens essenciais de uma vida digna. A maior parte dos itens não se compra. A renda tem um papel importante, mas ser pobre, não é uma questão exclusiva de renda", destacou o senador Cristovam.

            De acordo com Cristovam, o conceito de pobreza nasce do conceito de riqueza. "A riqueza é um conceito criado e a pobreza é consequencia desse conceito pós-moderno de riqueza. A CAUSA DA POBREZA É MENOS A PROPRIEDADE PRIVADA, OS MEIOS DE PRODUÇÃO, E É MAIS A PROPRIEDADE DO CONHECIMENTO. Quem entrou no mundo do conhecimento, entra no mundo dos donos do capital. A porta para sair da pobreza é a educação. Ela propicia a igualdade de acesso ao que é essencial. A renda e o consumo depende do acesso à saúde e educação. É com o uso do dinheiro  que devemos nos preocupar, e não a quantidade de dinheiro. A POBREZA HOJE É A FALTA DE ACESSO AOS BENS QUE DEFINEM O ACESSO À RENDA", destacou.
(...)

terça-feira, 3 de abril de 2012

A LIÇÃO DOS GANSOS



            Duas vezes por ano, cinco milhões de gansos enfrentam uma verdadeira maratona. Durante três meses, percorrem mais de cinco mil Km, migrando das regiões árticas para lugares mais quentes e voltando novamente na primavera para procriar.
            A motivação para essa jornada é garantir a própria vida. O ambiente é de cooperação. Em grupo, adotam uma formação em V na qual todos se beneficiam do impulso gerado pela batida das asas de seus companheiros. Quando está voando sozinho, o ganso sente a resistência do ar e se cansa rapidamente. Assim, o trabalho de cada animal facilita a vida dos outros. Todos dão o máximo de si para alcançar o objetivo. O trabalho de cada um é valorizado. Quando o ganso que lidera o grupo cansa, rapidamente outro chega para ajudá-lo, ocupando seu lugar. Quando um animal fica doente, gansos saem da formação e o acompanham para protegê-lo. Voando na formação em V, os gansos fazem um grande barulho. O objetivo? Animar os companheiro e manter o ritmo de voo.
            E você? Gostaria que seus companheiros de trabalho fossem como os gansos?                                

"Um exército de ovelhas liderado por um leão derrotaria um exército de leões liderado por uma ovelha."

quarta-feira, 28 de março de 2012

INCLUSÃO: REALIDADE OU EMBROMAÇÃO?

        
       Há alguns anos, numa escola particular regular, deparei com uma situação no mínimo constrangedora para mim: um aluno surdo entre mais ou menos trinta ouvintes. Chamemo-lo  de Lucas para ocultar sua identidade. O que me constrangia era principalmente a minha incompetência para lidar com o mesmo.
          Lembro-me de que ele era, pelo menos me parecia, proficiente em leitura labial. Por isso ocupava um dos primeiros lugares na frente e se punha estrategicamente de modo que pudesse fazer a leitura dos professores enquanto eles expunham sua matéria. Eu, como professor de Língua Portuguesa, sentia-me perturbado, pois no íntimo, por intuição, sabia que boa parte das definições que ali punha e expunha eram desnecessárias para o Lucas. O pior de tudo era que meu despreparo fazia com que me esquecesse do menino. Assim de vez em quando ficava falando de costas para a turma, enquanto escrevia, até que alguém dizia: “Professor, o Lucas não está conseguindo ler seus lábios”. Restava-me policiar-me para tentar não cometer o mesmo engano.
          Ouvia amiúde na sala dos professores comentários de colegas, e seus constrangimentos não eram menores que o meu. Entretanto nunca vi em nenhuma reunião pedagógica os gestores dessa área fazerem nenhuma citação sobre o problema. Ou seja, para eles o Lucas era apenas mais um aluno dentre tantos.
             Há mais tempo ainda, em uma outra escola, deparei-me com um problema similar. Uma aluna deficiente visual. Quando iniciava a aula ouvia ininterruptamente o barulhinho do material de braile que ela utilizava. Era necessário a todo instante que ficasse falando o que iria escrever. Mas o que eu mais admirava era a dedicação que os alunos tinham para com ela. Todos os dias os alunos se revesavam na tarefa de ajudá-la, numa clara demonstração de que os jovens estão sim preparados para receber e acolher com satisfação colegas "especiais". Lembremos que o mesmo ocorria no caso Lucas. Mais uma vez não lembro de essa escola ter convidado alguém do Instituto dos cegos para palestrar a respeito de como lidar com a deficiência visual total.

          Hoje trabalho na Escola Pública e vejo dia após dia comentários a respeito de escola inclusiva. Todos os anos fico sobressaltado, esperando alunos com deficiências visuais ou auditivas entrarem em minha sala e eu não saber como lidar com elas. Por isso resolvi por conta própria me matricular em um curso de LIBRAS, para que não ocorra o que aconteceu no caso Lucas. Mesmo assim sei que a Escola Pública fala muito em inclusão, mas não está preparada, nem tampouco se preparando para receber alunos com necessidades especiais.
(Professor Alves, texto produzido como Atividade Reflexiva do curso de Libras on line, Portal da Educação)